Nas especialidades médica, de uma maneira geral, trabalha-se com a idéia de um conjunto de fatores causais ou etiológicos que levam a desvios nos padrões de funcionamento normal do organismo, podendo provocar doenças em um ou mais órgãos ou sistemas corporais. A maioria dos transtornos psiquiátricos ocorre a partir de uma interação muito complexa de fatores genéticos (herdados pelo indivíduo) e fatores ambientais, incluindo problemas no relacionamento interpessoal.O entendimento desta interação é fundamental para o Psiquiatra poder diagnosticar bem e, assim, ajudar o paciente a superar aquilo que está transtornando sua vida.

A ampliação desse conhecimento é, talvez, o maior desafio para a Psiquiatria atual e muito tem sido realizado nesse campo da ciência médica, especialmente a partir da década de 90 do século passado, quando as novas descobertas das Neurociências deram um grande impulso ao desenvolvimento tanto da Medicina (especialmente a Neurologia e a Psiquiatria) quanto da Psicologia. E isso contribui muito para enfraquecer o pensamento dicotômico entre mente e cérebro.

A divisão das doenças psíquicas em “orgânicas” (ou “biológicas” ou “cerebrais”) e “psicológicas” (ou “puramente mentais”) nos leva a pensar no funcionamento separado entre mente e cérebro e, consequentemente, ao raciocínio equivocado de que as doenças ditas “psicológicas” devem ser tratadas somente com Psicoterapia, enquanto as doenças psíquicas orgânicas devem
ter tratamento baseado no uso apenas de medicamentos (psicofármacos).

Um grande problema com esta visão é que ela não enxerga que tanto os psicofármacos influenciam as funções psíquicas, como atenção, memória, raciocínio, juízo da realidade, alerta, afeto, linguagem, humor, etc, quanto as técnicas psicoterápicas agem interferindo nas funções fisiológicas do cérebro, inclusive na expressão de genes que codificam a síntese de neurotransmissores. Isto é plenamente comprovado por estudos científicos baseados em neuroimagens funcionais.

Assim sendo, sabemos atualmente que não existem funções intelectuais normais sem uma base orgânica funcionando bem. E esta base biológica das funções mentais é o Sistema Nervoso Central – SNC, composto por Cérebro, Núcleos da Base e Cerebelo.  Também sabemos que o SNC não tem sua ação fisiológica normal se as funções mentais não estiverem equilibradas.

Então, vale a pena frisar que a melhor abordagem terapêutica para os transtornos psiquiátricos é, geralmente, o uso racional de psicofármacos integrado com alguma técnica de psicoterapia.

Fernando Avelar Tonelli
Psiquiatra

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